terça-feira, 11 de novembro de 2014

Papa Francisco ordenará abertura de arquivos secretos

Papa ordenará abertura de arquivos secretos

Por: O Globo

O Papa Francisco está disposto a ordenar a abertura dos arquivos secretos do Vaticano para colaborar com investigações judiciais sobre crimes cometidos pela última ditadura militar argentina (1976-1983), segundo revelou o embaixador argentino no Vaticano, Juan Pablo Cafiero. A informação foi confirmada após o recente encontro entre Francisco e a presidente das Avós da Praça de Maio, Estela de Carlotto, que foi a Roma junto com seu neto, Ignácio Hurban, uma das últimas descobertas da ONG argentina. Ignácio recuperou sua verdadeira identidade em agosto passado e desde então trabalha ativamente na campanha pela busca de outros netos, filhos de presos políticos desaparecidos.
Após o histórico encontro, Cafiero deu detalhes de uma reforma legal que está sendo promovida pelo ex-cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio, que permitirá à Justiça argentina solicitar informações dos arquivos secretos do Vaticano.
— O Vaticano decidiu abrir seus arquivos quando existir um pedido judicial específico... são respostas que o Papa está dando — declarou o ministro da embaixada argentina na Itália, Carlos Cherniak.
O embaixador Cafiero, explicou que a reforma foi adotada por decreto do Papa e implicará modificações nos códigos Penal e Processal do Estado do Vaticano.
— Em vários artigos modificados está prevista uma assistência especial à Justiça em casos humanitários. Portanto, diante de um pedido da Argentina será possível ter acesso aos chamados arquivos secretos (do Vaticano) — ampliou Cafiero.
Na Argentina, as Avós da Praça de Maio conseguiram sinal verde para investigar os arquivos da Igreja local, já que suspeita-se que muitos netos roubados foram entregues a outras famílias através de organizações católicas como o Movimento Familiar Cristão.
— Pedimos ao Papa que desse instruções para que a Igreja argentina colaborasse com nossa busca... já nos enviaram alguns materiais, mas por enquanto não temos nenhuma novidade — declarou Carlotto, que pela primeira vez admitiu ter se enganado sobre o passado de Francisco.
Quando o então cardeal Bergoglio foi nomeado sucessor do Papa Bento XVI, em março de 2013, a presidente das Avós da Praça de Maio o acusou de ter sido parte da “Igreja que escureceu o país”
— É verdade, não sentimos muita alegria com sua eleição... nunca tínhamos ouvido Bergoglio falar sobre os desaparecidos, nem as crianças que devíamos buscar — admitiu Carlotto.
Hoje, disse a presidente das Avós, o grupo entende que eram “informações com má intenção”.
— Na Argentina estamos construindo a História, não somos os donos da verdade, podemos nos enganar — assegurou Carlotto.

Papa Francisco ordenará abertura de arquivos secretos

Papa ordenará abertura de arquivos secretos

Por: O Globo

O Papa Francisco está disposto a ordenar a abertura dos arquivos secretos do Vaticano para colaborar com investigações judiciais sobre crimes cometidos pela última ditadura militar argentina (1976-1983), segundo revelou o embaixador argentino no Vaticano, Juan Pablo Cafiero. A informação foi confirmada após o recente encontro entre Francisco e a presidente das Avós da Praça de Maio, Estela de Carlotto, que foi a Roma junto com seu neto, Ignácio Hurban, uma das últimas descobertas da ONG argentina. Ignácio recuperou sua verdadeira identidade em agosto passado e desde então trabalha ativamente na campanha pela busca de outros netos, filhos de presos políticos desaparecidos.
Após o histórico encontro, Cafiero deu detalhes de uma reforma legal que está sendo promovida pelo ex-cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio, que permitirá à Justiça argentina solicitar informações dos arquivos secretos do Vaticano.
— O Vaticano decidiu abrir seus arquivos quando existir um pedido judicial específico... são respostas que o Papa está dando — declarou o ministro da embaixada argentina na Itália, Carlos Cherniak.
O embaixador Cafiero, explicou que a reforma foi adotada por decreto do Papa e implicará modificações nos códigos Penal e Processal do Estado do Vaticano.
— Em vários artigos modificados está prevista uma assistência especial à Justiça em casos humanitários. Portanto, diante de um pedido da Argentina será possível ter acesso aos chamados arquivos secretos (do Vaticano) — ampliou Cafiero.
Na Argentina, as Avós da Praça de Maio conseguiram sinal verde para investigar os arquivos da Igreja local, já que suspeita-se que muitos netos roubados foram entregues a outras famílias através de organizações católicas como o Movimento Familiar Cristão.
— Pedimos ao Papa que desse instruções para que a Igreja argentina colaborasse com nossa busca... já nos enviaram alguns materiais, mas por enquanto não temos nenhuma novidade — declarou Carlotto, que pela primeira vez admitiu ter se enganado sobre o passado de Francisco.
Quando o então cardeal Bergoglio foi nomeado sucessor do Papa Bento XVI, em março de 2013, a presidente das Avós da Praça de Maio o acusou de ter sido parte da “Igreja que escureceu o país”
— É verdade, não sentimos muita alegria com sua eleição... nunca tínhamos ouvido Bergoglio falar sobre os desaparecidos, nem as crianças que devíamos buscar — admitiu Carlotto.
Hoje, disse a presidente das Avós, o grupo entende que eram “informações com má intenção”.
— Na Argentina estamos construindo a História, não somos os donos da verdade, podemos nos enganar — assegurou Carlotto.

domingo, 3 de agosto de 2014

Calote da Argentina tem origem em políticas dos anos 90, dizem especialistas



  • 03/08/2014 10h45
  • Brasília
Wellton Máximo – Repórter da Agência Brasil* Edição: Nádia Franco
O default (calote) técnico na dívida externa da Argentina reflete a herança de políticas desastrosas do fim dos anos 90. Segundo economistas ouvidos pela Agência Brasil, o impasse no pagamento aos credores pouco tem a ver com a gestão atual da economia do país vizinho.
“A rigor, a situação da Argentina nem pode ser chamada de calote porque o país tem dinheiro para pagar a dívida reestruturada [renegociada], mas uma pequena parte dos credores não quer receber com desconto”, diz o professor de macroeconomia do Ibemec Alexandre Espírito Santo.
Segundo Alexandre, a crise cambial que estourou no início do ano na Argentina, elevando a inflação e reduzindo o consumo, não está relacionada ao calote. “É importante separar as coisas. Os problemas da dívida argentina vêm de um processo que se arrasta há anos. Mas o default técnico pode sim, intensificar a recessão por lá”, explica.
Economista-chefe do banco Sulamérica Investimentos, Newton Rosa concorda que as origens do impasse na dívida argentina não estão na política econômica atual, embora os fundamentos econômicos do país vizinho agravem a situação. “A crise da dívida vem de mais de dez anos, mas o calote piorou o que já estava ruim, num país sem crédito externo e com poucas reservas internacionais”, comenta.
Na década de 90, a Argentina manteve o regime de câmbio fixo, pelo qual um peso equivalia a um dólar com garantia na Constituição do país. Para financiar a moeda sobrevalorizada, a economia argentina tornou-se cada vez mais dependente do capital especulativo. Após a crise da Rússia, em 1998, e do Brasil, em 1999, a Argentina ainda resistiu por dois anos à fuga de divisas. No entanto, em dezembro de 2001, o governo do ex-presidente Fernando de la Rúa, liberou o câmbio.
A desvalorização abrupta do peso tornou impagável a dívida pública (externa e interna) do país, que era em boa parte corrigida pelo dólar. Sem reservas internacionais para honrar os compromissos, a Argentina viu-se obrigada a deixar de pagar os juros e a dívida principal dos papéis que havia emitido. Com a moratória, o país foi excluído do sistema financeiro internacional e ficou sem acesso a crédito externo.
Em 2005 e 2010, a Argentina renegociou a dívida e apresentou diversos planos de reestruturação. Dos credores internacionais, 93% aceitaram a proposta do governo argentino para quitar os débitos de forma parcelada com desconto de 60% a 65% no valor da dívida. No entanto, 7% não aceitaram o plano e decidiram contestar o acordo na Justiça norte-americana, que tem jurisdição sobre os títulos emitidos na Bolsa de Nova York.
Em novembro de 2012, o juiz de primeira instância Thomas Griesa, do Tribunal Federal de Nova York, aceitou a alegação de um grupo que representa 1% do total de credores e obrigou o pagamento do valor integral dos papéis, mais os juros. Esse grupo é formado pelos fundos abutres, que compram títulos podres e depois cobram o valor dos papéis na Justiça.


dólares
Reservas  argentinas  estão  hoje  em  torno  de
US$ 30 bilhõesMarcello Casal Jr./Agência Brasil

Segundo o governo argentino, a decisão abre precedente para que os demais 6% que não aceitaram o acordo de reestruturação também cobrem o valor integral da dívida. Alguns entraram com processo em outros tribunais dos Estados Unidos. Se esses grupos fossem cobrar hoje, a Argentina teria de desembolsar cerca de US$ 15,4 bilhões, mais juros, o que ficaria em torno de US$ 17 bilhões. O montante equivale a mais da metade das reservas internacionais do país, em torno de US$ 30 bilhões.
Em agosto do ano passado, a Corte de Apelações do Segundo Circuito de Nova York manteve a sentença de Griesa e ordenou o país a pagar a totalidade do US$ 1,3 bilhão devido aos fundos abutres. A batalha judicial arrastou-se até junho deste ano, quando a Suprema Corte dos Estados Unidos rejeitou os recursos do governo argentino e manteve as sentenças de primeira e segunda instâncias.
Desde então, a Argentina entrou numa corrida contra o tempo para evitar o calote. No fim de junho, o país depositou mais de US$ 1 bilhão em um banco de Nova York para pagar a parcela devida aos 93% de credores que aceitaram a renegociação. O juiz Griesa, no entanto, sustou o pagamento, alegando que o Banco de Nova York ajudaria a Argentina a violar a sentença judicial se permitisse ao país pagar os credores da dívida reestruturada, antes dos fundos abutres, ganhadores do processo.
Em 30 de julho, venceu o prazo para que o governo argentino pagasse uma nova parcela da dívida renegociada. Sem ter como pagar aos credores que aceitaram a reestruturação, o país entrou em default técnico.
* Colaborou Monica Yanakiew, de Buenos Aires






quarta-feira, 30 de julho de 2014

Após fim do prazo para acordo sobre dívida, Argentina entra em calote

Mediador nomeado pelos EUA confirmou calote do país após reunião em NY.
País não considera que esteja em calote técnico.

Do G1, em São Paulo
Acabou, no fim desta quarta-feira (30), o prazo para a Argentina conseguir um acordo com credores que se recusaram a negociar com desconto os débitos do país. Após a reunião com fundos que não aceitam renegociar a dívida, a Argentina entra em calote, confirmou o mediador nomeado pela Justiça dos Estados Unidos. "A República da Argentina não alcançou nenhuma das condições, e, como resultado, vai estar em default (calote)", afirmou Daniel A. Pollack, em comunicado divulgado à noite.
O ministro da Economia, Axel Kicillof, que participou da reunião, se disse surpreendido pelo comunicado. "Sinceramente, desconhecia o comunicado. Peço desculpas aos trabalhadores que estavam esperando atentamente o resultado dessas negociações", afirmou, segundo reportagem do jornal argentino "La Nación". "Me vejo surpreendido ingratamente pelo comunicado, que parece escrito para favorecer uma das partes."
Ao dizer que a Argentina "não alcançou nenhuma das condições", Pollack se referiu à negociação sem sucesso com os chamados "fundos abutres".
Esse grupo é formado por uma minoria de credores que não aceitaram a renegociação da dívida do país após o calote de 2001.
Eles entraram na Justiça dos EUA, exigindo receber de forma integral o que a Argentina lhes deve.
Essa briga dura vários anos e, no último dia 26 de junho, o juiz americano Thomas Griesa bloqueou o pagamento feito pelo governo argentino da parcela da dívida para os credores que aceitaram a renegociação.
A Argentina tinha um mês, após o vencimento, no último dia 30, para quitar essa parcela.
O calote é técnico e é diferente do calote de 2001 porque o país tem o dinheiro para pagar, mas está impedido pela Justiça.
Argentina não fala em calote
Após a reunião com os fundos, em Nova York, Kicillof repetiu que o país não considera que esteja em calote técnico. "Se fosse um default, o dinheiro não estaria depositado", disse, usando um argumento utilizado pela presidente Cristina Kirchner.

O ministro, que participou da reunião, afirmou que os "abutres" não aceitaram a proposta feita pelo país. Ele reiterou que não poderia fazer uma oferta diferente da negociada com os demais credores e que pediu a suspensão da sentença que bloqueia o pagamento da parcela. Ambas as propostas já haviam sido feitas ao longo da negociação. "Os fundos querem mais e agora", lamentou Kicillof.
O mediador Pollack considera que o calote não é uma condição técnica, já que afeta de forma real a vida das pessoas e dos investidores.
"Apesar de argumentos contrários, default não é uma condição meramente técnica, mas um evento real e doloroso que machuca pessoas reais: isso inclui os cidadãos argentinos comuns, os credores que renegociaram (que não vão receber os juros) e os que não renegociaram (que não receberão o pagamento determinado pela Justiça)", escreveu.
De acordo com a imprensa local e agências de notícias, uma outra tentativa de negociação com os fundos ainda teria sido conduzida pelos bancos privados argentinos, na noite desta quarta, mas também teria terminado mal. Os bancos estariam buscando comprar os títulos da dívida em poder dos fundos para evitar o calote. "Desabou tudo", disse à Reuters uma fonte com acesso às negociações.
'Calote seletivo'
Antes do anúncio do resultado da reunião, a agência de risco Standard&Poor´s rebaixou a nota de risco da Argentina e considerou que o país já estava em calote.

O calote só afeta os US$ 539 milhões que não chegaram a ser efetivados por estarem retidos no Bank of New York Mellon (Bony), por recomendação do juiz Griesa, que julga o processo de fundos especulativos contra a Argentina pela dívida em moratória desde 2001.
Por isso é considerado um "calote seletivo" pela Standard & Poor's. Ou seja, para a agência, o país fica inadimplente apenas em uma parte de suas obrigações financeiras. A S&P afirma que a nota poderá ser revisada se o país pagar a parcela da dívida.
Próximos passos
O mediador Pollack disse estar disponível para continuar a negociação. "Não é meu papel ou intenção apontar culpas de qualquer lado. Continuarei disponível para as partes para ajudá-los a chegar a uma resolução em que os interesses de todos sejam alcançados."

"Não vamos assinar nenhum compromisso que comprometa o futuro", afirmou Kicillof nesta quarta. "Se oferecemos mais aos abutres, todo o resto pode reclamar o mesmo."
A renegociação da dívida argentina tem uma cláusula chamada Rufo (Rights Upon Future Offers), que trata de direitos sobre ofertas futuras da renegociação. Ela dá a garantia de poder exigir as mesmas condições de qualquer outra eventual oferta voluntária futura aos chamados “holdouts” – aqueles que ficaram de fora da renegociação.
Assim, se a Argentina pagar 100% da dívida a algum credor, outros podem cobrar o mesmo. Esse item do contrato, no entanto, vence no dia 31 de dezembro, o que leva a muitos analistas a acreditarem que um acordo ou iniciativa de negociação não deverão acontecer antes de 2015.
Assim, segundo eles, um novo calote agora dificilmente provocaria impactos semelhantes ao da moratória de 2001. A avaliação é de que não se trata de um problema de falta de dinheiro e que a questão tende a ser resolvida num prazo de até 6 meses, quando expira a cláusula Rufo.
É consenso, entretanto, que a combalida economia argentina seria ainda mais enfraquecida, uma vez que a fuga de dólares tenderia a crescer, a moeda a se desvalorizar, a inflação a subir e o Produto Interno Bruto (PIB) a cair.
O ministro argentino Axel Kicillof faz sinal após sair da negociação com fundos especulativos em Nova York (Foto: Stan Honda/AFP)Ministro Axel Kicillof faz sinal após sair da reunião com fundos em Nova York. (Foto: Stan Honda / AFP Photo)
 
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quarta-feira, 9 de julho de 2014

Argentina volta à final nos penais e proclama independência de Maradona

Bruno Ceccon, Luiz Ricardo Fini e William Correia São Paulo (SP)
Há 198 anos, a Argentina proclamou a independência do domínio espanhol. No mesmo 9 de julho, mas em 2014 e em terras brasileiras, o país se tornou independente de quem, na verdade, o orgulha. No estádio de Itaquera, a seleção ficou no 0 a 0 com a Holanda no tempo normal e na prorrogação e, nos pênaltis, chega pela primeira vez a uma final de Copa do Mundo desde a aposentadoria do eterno ídolo Maradona.
Em 1990, na Itália, Maradona levou o país à decisão. Nesta quarta-feira, a Argentina não precisou nem de Messi, já que o agora herdeiro da camisa 10 e da faixa de capitão não acertou quase nada em São Paulo, a não ser ao converter sua penalidade. O goleiro Romero, porém, foi suficiente, defendendo as cobranças de Vlaar e Sneijder e garantindo vitória na disputa por 4 a 2.
Durante os 120 minutos anteriores aos pênaltis, o que se viu foi um duelo tático, cheio de marcação e com pouco espaço para Messi e Robben mostrarem por que são candidatos a craque do torneio. No fim do tempo normal, contudo, Mascherano virou herói ao dar carrinho e bloquear chute de Robben na pequena área. Como também faltou eficiência nos pênaltis, cabe a Holanda disputar o terceiro lugar às 17 horas (de Brasília) no sábado, no Mané Garrincha.
No domingo, é a vez de os argentinos tentarem voltar a ser campeões mundiais a partir das 16 horas, no Maracanã. A divindade atribuída a Maradona é lembrada até hoje em canções das torcidas e explica a presença do país na final de 24 anos atrás diante da Alemanha, que celebrou seu tricampeonato. Agora, diante do mesmo adversário, cabe à seleção de Messi se vingar da frustração de Maradona na Itália.
O jogo – Argentina e Holanda escolheram estratégias diferentes para anular o astro adversário. Enquanto Louis Van Gaal ordenou a De Jong que não ficasse nunca a mais de dois metros de Messi, Alejandro Sabella cumpriu sua promessa de aproximar laterais e zagueiros para não dar espaço para as arrancadas de Robben.
Os coadjuvantes eram exemplos de obediência a esquemas táticos. Os sul-americanos tinham em Mascherano o comando da saída de bola. O volante virou terceiro zagueiro diversas vezes para soltar Zabaleta e Rojo como alas. Mesmo quando não tinha a bola, ordenava aos colegas que adiantassem a marcação e, também, valorizassem a posse, sem se desesperar.
O problema era achar espaço na frente. De Jong, se precisasse, recebia a ajuda de mais ou dois companheiros para acompanhar Messi, que não conseguia ser mais efetivo no jogo mesmo com toques de primeira para dar dinâmica à sua seleção, que não tem um meia de criação. Pelos lados, Kuyt e Blind corriam para alternar o esquema do 5-3-2 para o 3-5-2.
Os laranjas, por sua vez, tinham Robben bem anulado e Sneijder só tinha a passagem de Wijnaldum como opção, já que Van Persie se mostrava bem confortável diante da marcação adversária, não se mexendo para aparecer nas costas da zaga, como fez com perfeição ao fazer um golaço de peixinho na estreia da Copa, sobre a Espanha.
Nesse duelo tático, os times se mexiam em bloco de uma intermediária a outra, sem conseguir espaço para finalizar ou levar perigo. O primeiro perigo só veio aos 12 minutos, quando Mascherano errou saída de bola e Kuyt ajeitou para Sneijder finalizar perto do gol de Romero. Do outro lado, Romero foi parado com falta e Messi cobrou forte, nas mãos de Cillessen, aos 14.
A primeira equipe a se mexer para escapar das marcações foi a Argentina. Sabella inverteu os posicionamentos de seus dois pontas e Lavezzi começou a dar trabalho pela direita, sendo acionado diretamente por Mascherano. Forçando por ali, gerou preocupação e escanteio que Garay desviou com peixinho rente ao travessão, aos 23.
Em meio à tensão, Cillessen despertou risos holandeses dando drible humilhante em Higuaín dentro da área. Os argentinos ainda levaram um susto quando Mascherano caiu totalmente grogue no gramado e precisou de dois minutos para se recuperar completamente e continuar em campo sem gerar preocupação.
Quem também se ajustou foi a Holanda, fechando os espaços que Lavezzi tinha e contando com a eficiência de seus zagueiros para cortar os cruzamentos. Até que Demichelis foi ao ataque para dar um pontapé em Sneijder e, como escapou de cartão, Martins Indi passou a fazer o mesmo com Messi, aliviando para De Jong, recém-recuperado de lesão.
Preocupado em bater, o zagueiro holandês levou amarelo e deixou Higuaín livre na grande área. Para sua sorte, nos acréscimos do primeiro tempo, Pérez não conseguiu cruzar para o centroavante, mas Van Gaal abriu mão de seu defensor, um sério risco de expulsão, e deu mais opções ofensivas à equipe.
O time laranja voltou do intervalo com Janmaat, com gás para marcar e atacar mais. Kuyt passou a jogar na ala esquerda e Blind virou zagueiro. O esquema não mudou, mas as novas peças permitiam à Holanda marcar mais na frente e dificultar o toque de bola argentino, que já não encontrava mais Lavezzi à disposição para criar problemas pela direita.
Robben não conseguiu arrancar nem Van Persie aparecia, mas os europeus tinham o domínio do jogo por verem que a Argentina só tentava atacar forçando jogadas individuais, e até Messi era desarmado com tranquilidade. Van Gaal, então, priorizou o toque de bola, trocando o cansado De Jong por Clasie. O time laranja que só gosta de contra-ataque tabelava como queria na intermediária rival. Sem, contudo, levar real perigo.
Em meio à falta de eficiência, Messi e Sneijder passaram vergonha com suas camisas 10 às costas, isolando a bola em cobranças de falta. Já os camisas 9 não sabiam se posicionar, já que Van Persie e Higuaín só assustaram quando estavam impedidos. A teia armada pelos dois times amarrava o jogo.
Aos 36, Sabella, que chegou a discutir com Higuaín durante o segundo tempo, cansou do centroavante para apostar na movimentação de Aguero. O atacante, no entanto, só apareceu ao atrapalhar a reposição de bola de Cillessen após boa defesa em chute de Rojo. Palacio, que substituiu Pérez aos 35, também quase não foi percebido. A Argentina não conseguia assustar.
Até que, aos 45 minutos do segundo tempo, Robben teve a sua primeira chance real. A Holanda tocou a bola até Sneijder tabelar com o atacante e ajeitar de calcanhar para o camisa 11 na área, demorar a finalizar e, já de frente para Romero, parar em impressionante recuperação de Mascherano, autor de carrinho que salvou seu país na pequena área.
No início da prorrogação, Argentina apertou a saída de bola holandesa, mas Cillessen mal precisava trabalhar porque mesmo Messi não acertava quase nada sob frio e chuva em Itaquera. Do outro lado, Van Gaal abriu mão da especialidade do goleiro reserva Tim Krul para defender pênaltis e mostrou que queria definir o jogo com a bola rolando sacando o imperceptível Van Persie para apostar em Huntelaar.
Quem realmente entrou no jogo, contudo, foi Robben. Sneijder o procurava a todo momento e o astro resolveu aparecer bem, como quando driblou três rivais em curto espaço até ser desarmado por Mascherano ou em finalização de fora da área nas mãos de Romero. O cansaço argentino parecia ajudá-lo.
Sabella, por sua vez, gastou sua última substituição pensando em preencher o meio-campo com alguém mais descansado, trocando o esgotado Lavezzi por Maxi Rodriguez. O meia, contudo, virou um dos sete ou oito jogadores que ficavam atrás da linha da bola para ver o toque de bola holandês. Os sul-americanos não apostavam em nada além de contra-ataques, todos ineficientes.
Mas, em meio ao cansaço dos dois times, Palacio quase levou Sabella ao infarto. Aos nove da última etapa do jogo, o atacante, sozinho na grande área, cabeceou a bola nas mãos de Cillessen. Minutos depois, Messi acordou e deixou Maxi Rodriguez em condições de evitar os pênaltis, mas foi mais um a facilitar o trabalho do goleiro holandês.
Nas cobranças, contudo, nenhum argentino ajudou o arqueiro europeu, que viu Messi, Garay, Aguero e Maxi Rodriguez balançarem as suas redes. Do outro lado, Romero parou Vlaar e Sneijder para garantir um sul-americano em decisão de Copa pela primeira vez desde 2002, quando o Brasil foi pentacampeão.

sábado, 12 de abril de 2014

Nobel da Paz: Dom Paulo Arns me salvou da ditadura brasileira

Adolfo Perez Esquivel disse que foi preso na primeira vez por militares em São Paulo em 1975, e na segunda vez em 1981

BBC
Arquivo pessoal/BBC Brasil
Ativista argentino esteve duas vezes preso no Brasil

O ativista de direitos humanos argentino Adolfo Perez Esquivel, de 82 anos, ganhador do Prêmio Nobel da Paz em 1980, disse que foi "salvo duas vezes" por dom Paulo Evaristo Arns durante a ditadura no Brasil.
LEIA TAMBÉM: Fantasmas da ditadura ainda assombram o Brasil 50 anos após golpe militar
Em entrevista à BBC Brasil em Buenos Aires, Esquivel disse que foi preso na primeira vez por militares em São Paulo em 1975, e na segunda vez em 1981.
"Em 1975, foi muito difícil, porque eles colocaram um capuz na minha cabeça, uma gravação de gritos de pessoas sendo torturadas e levantavam um pouco o capuz somente para que eu pudesse identificar latino-americanos que eles perseguiam."
Segundo ele, os militares queriam que ele "denunciasse" outros opositores ao regime no Brasil. "Eu disse que não conhecia ninguém”.
Perez Esquivel afirmou ainda que três militares o interrogaram e não pode ver seus rostos. "Eram três interrogadores – um muito duro que dizia que iam me matar, que iam me torturar, outro que dizia que era conveniente que eu falasse e outro que queria se fazer de meu amigo, que estava ali para me ajudar", afirmou.
No dia seguinte à prisão, o então arcebispo de São Paulo dom Paulo Evaristo Arns, conseguiu tirá-lo do local. "O cardeal me salvou duas vezes", disse o Prêmio Nobel durante a entrevista realizada na sede da ONG Serviço Paz e Justiça (Serjap) que dirige na Argentina.
Segundo Esquivel, Arns reuniu outros religiosos e defensores de direitos humanos e organizou uma manifestação na porta da delegacia, que não recordou onde ficava, assim que soube da sua detenção.
"Dom Paulo, certamente, falou com autoridades do Brasil para que eu fosse liberado. Mas não sei as gestões exatas que ele fez. O que sei é que ele não perdeu tempo em organizar uma manifestação na porta da delegacia para me salvar. E me salvou", disse.
Medo
Quando perguntado se tinha sentido medo de morrer na prisão durante a ditadura no Brasil, ele respondeu: "Daquela vez sim, foi mesmo preocupante".
Ele contou que foi preso no aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, e que estava com o advogado Mario Carvalho de Jesus, da Frente Nacional do Trabalho, e com a austríaca Hildegard Goss-Mayr, atual presidente honorária do Movimento Internacional de Reconciliação e integrante do Serpaj, que mora em Viena.
"Nós três tínhamos viajado para um encontro com dom Paulo, mas fomos presos antes. Depois sim, nos encontramos com ele, porque ele atuou para me liberar", afirmou.
O Prêmio Nobel recordou que sua prisão ocorreu no mesmo ano em que dom Paulo condenou a prisão e morte do jornalista Wladimir Herzog, assassinado no DOI-CODI, em São Paulo. "Dom Paulo convocou os religiosos contra a morte de Herzog que depois se soube foi mesmo assassinado", disse.
Esquivel foi preso em outras ocasiões no Equador e na Argentina, onde foi torturado, como recordou. "Eu sou um sobrevivente dessas tragédias que vivemos na América Latina", disse.
Anos mais tarde, em 1981, ele foi preso após criticar a anistia no Brasil.
"Eu falei na OAB do Rio de Janeiro e foram atrás de mim no aeroporto. Mas eu tinha mudado de voo para viajar com Leonardo Boff para São Paulo. Ainda assim me pegaram", disse.
Em São Paulo, quando chegava para dar uma palestra no colégio Sion, contou, onde realizaria um discurso com outros religiosos, incluindo dom Paulo Evaristo Arns, ele foi preso novamente.
"Me levaram para uma delegacia e dom Paulo reuniu várias pessoas em um protesto no local e graças a isso e a ele, novamente, me liberaram", disse.
Visita na prisão
Segundo Perez Esquivel, o então senador (Jarbas) Passarinho teria lhe visitado na prisão. "O senador Passarinho justificou porque a anistia era importante, dizendo que sem ela não seria possível construir uma democracia. E que as Forças Armadas tinham colocado ordem no caos. Discurso que achei típico de ditadores", afirmou.
E continuou: "Por esse motivo, dom Paulo costumava dizer que a democracia no Brasil só deixava passar um passarinho."
Na OAB, recordou, ele afirmou que "as Forças Armadas não podiam ser anistiadas pelos crimes da ditadura".
Na ocasião, ele já era Prêmio Nobel da Paz, que recebeu em 1980 pela defesa dos direitos humanos na América Latina. "A minha segunda prisão no Brasil foi quase uma questão diplomática", disse.
Ele considera "importante" a realização de comissões da verdade no Brasil e da integração entre os países da região na busca de informações sobre o que aconteceu no período ditatorial.
Em janeiro, Brasil, Argentina e Uruguai assinaram um acordo, no âmbito da Comunidade dos Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac), para compartilhar documentos sobre as ditaduras nos três países.
Esquivel ressalvou, porém, que acha que as operações conjuntas contra opositores não se limitaram aos países do Cone Sul, onde a chamada ‘operação Condor’ significou ações conjuntas dos governos na busca dos que se opunham ao regime militar e foram entregues aos outros países ou mesmo torturados nos países vizinhos.
"Eu não chamo de ‘operação Condor’, eu digo que era a internacional do terror." Segundo ele, essa operação era "um monstro com muitos tentáculos".
Ele citou alguns casos de autoridades latino-americanas mortas em outros países, como o ex-ministro da Defesa do governo do presidente socialista Salvador Allende, do Chile, Orlando Letelier, morto com uma bomba colocada em seu carro em Washington por agentes da polícia do regime de Augusto Pinochet.
Ele afirmou ainda que a prisão, em 1976, com outros dezessete bispos latino-americanos e quatro americanos, no Equador, também "fazia parte da operação Condor".
"De jeito nenhum a operação se limitou ao Cone Sul", reiterou.
Verdade
Na sua opinião, a Argentina está à frente do Brasil na investigação sobre os crimes da ditadura porque no governo do ex-presidente Raul Alfonsín, na redemocratização, a partir de 1983, os militares foram levados a julgamento.
Anos mais tarde, os governos de Alfonsín e de seu sucessor Carlos Menem, lançaram as leis de Obediência Devida e Ponto Final, definidas como anistia. As leis foram derrubadas no governo do ex-presidente Nestor Kirchner, que governou entre 2003 e 2007 e morreu em 2010.
"Talvez, a Argentina, do ponto de vista jurídico, tenha sido o país que mais avançou (nesta questão)." Perez Esquivel defendeu que os crimes da ditadura sejam investigados para que "todas as gerações saibam o que aconteceu".
"Algo importante que o brasileiro deve ter é a busca da memória. Não é apenas buscar o passado. A memória deve iluminar o presente e ser base para as gerações futuras", disse.
Ele afirmou que a anistia "significa impunidade" e "impede a construção da democracia". "No Brasil lamentavelmente até agora impera a impunidade, com essa lei de anistia", disse.
Ele cpomplementa que "para o direito internacional os crimes de lesa-humanidade jamais prescrevem". "Esperamos que eles não aconteçam nunca mais. Mas também por isso é importante saber o que aconteceu no Brasil e em toda a região, em todo o mundo", disse.












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