quarta-feira, 29 de maio de 2013

Argentina comemora 203 anos de independência e 10 de inclusão

(ASCOM FC)

Numa festa com 700 mil pessoas, embaladas em músicas, danças, luzes e papel picado que iluminavam a Casa Rosada, símbolo do poder popular, a Argentina comemorou ontem. o tradicional 25 de Maio, os 203 anos da independência e os 10 da política de inclusão social, dos governos Kirchner, que arrancaram o país da depressão de 2001.
Ao contrário do enorme impasse do início do novo milênio, quando garfaram o emprego, as aposentadaorias e até os depósitos bancários dos argentinos, o país passou a viver, na década ganhada, um período de bonança, com a criação de cinco milhões de novos postos de trabalho, 1.400 novas escolas, nove universidades, uma aposentadoria duas vezes mais ampla e garantida pelo Estado e não mais dependente da falência dos bancos privados, além da devolução do dinheiro surrupiado pelo denominado corralito.
Estas conquistas, porém, encontram-se sob sério risco devido à cerrada campanha de desestabilização, à semelhança daquelas desencadeadas contra Getúlio e Jango no Brasil, e Perón, na Argentina, desencadeadas pelos mesmos grupos poderosos e midiáticos que idealizaram as ditaduras e os escândalos financeiros que quebraram o país e empobreceram a antes rica e opulenta nação platina.
Por esta razão, a presidenta Cristina, esposa e sucessora de Néstor, o primeiro Kirchner, que governo de 2003 a 2007, quando passou o bastão à "companheira de vida e de militância", fez um comovente discurso, apelando ao povo para que se organize e participe mais da vida nacional, para que, não ela, pessoalmente, mas a sociedade, melhor se defenda das tormentas que se desenham no horizonte. A propósito, ela lembrou que, nos seus seis anos de governo, havia enfrentado nada menos que três "corridas cambiárias", ou seja, ataques especulativos contra a moeda e as finanças do país, todos eles inspirados e sustentados pelos meios de comunicação, tendo à frente os grupos Clarín e La Nación.
Clique aqui para o discurso e a festa na Plaza de Mayo
Cristina tem insistido sobretudo para que o povo se informe melhor dos acontecimentos, recorrendo a outras fontes de notícias e não somente aquelas dos grandes grupos midiáticos, por terem sido estes justamente os autores dos pacotes econômicos de arrocho ecoômico e das ditaduraas mais brutais que atingiram o país depois de 1964: "É por isso que me empenho, é minha ocessão que esta sociedade de 40 milhões de argentinos se organize, de forma unida e solidária, mas ao mesmo tempo compreenda (o que está acontecendo)".

E citou um exemplo: "Outro dia, eu falava dos incautos e contava uma história de precisamente quando foram emitidos os famosos bônus para pagar aos argentinos com os depósitos segurados pelo corralito. Muitos o venderam. Quando, no ano passado, pagamos (o governo) o corralito, eram somente 20 por cento os argentinos (que os tinham disponível por inteiro). Os outros 80% eram (pertenciam) a estrangeiros que haviam comprado por dois pesos o que valia 100 (pesos). Por que? porque tem muitos argentinos, inclusive argentinos instruídos, argentinos de classe média, argentinos que tiveram oportunidade talvez não de entender, e sim de saber. Porque há uma grande diferença entre saber e entender".
Veja ainda:Videla e a natureza das reais ditaduras

Por esta razão, a presidenta instou aos argentinos que "entendam e compreendam quais e onde estão seus verdadeiros interesses". Daí a necessidade, segundo ela, de organizar a sociedade para cuidar as conquistas. Olhar par cuidar. Porque se vocês não se organizem, se não participam, se não cuidam, vocês mesmos, do que é de vocês, vai passar por tudo isso outra vez".
É importante que o internauta veja vídeo acima do discurso da presidenta neste vídeo e sinta o clima mágico de civismo de toda aquela festa.

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Cartas de Geisel a Videla mostram elos da Operação Condor

Presidente João Goulart  - autor: Zero Hora
Presidente João Goulart - autor: Zero Hora
Jorge Videla cumpriu o papel que dele se esperava na Operação Condor, o pacto terrorista que há 27 anos ocupou um capítulo importante na agenda argentina com o Brasil. O ditador Ernesto Geisel recebeu de bom grado a “nova” política externa do processo de reorganização nacional (e internacional), tal como se lê nos documentos, em sua maioria secretos, até hoje, obtidos pela Carta Maior.
Carta Maior


“Foi com a maior satisfação que recebi, das mãos do excelentíssimo senhor contra-almirante César Augusto Guzzetti, ministro de Relações Exteriores, a carta em que Sua Excelência teve a gentileza de fazer oportunas considerações a respeito das relações entre nossos países...que devem seguir o caminho da mais ampla colaboração”.

A correspondência de Ernesto Beckman Geisel dirigida a Videla exibe uma camaradagem carregada de adjetivos que não era característico desse general, criado numa família de pastores luteranos alemães.

“O Brasil, fiel a sua História e ao seu destino irrenunciavelmente americanista, está seguro de que nossas relações devem basear-se numa afetuosa compreensão...e no permanente entendimento fraterno”, extravasa Geisel, o mesmo que havia reduzido a quase zero as relações com os presidentes Juan Perón e Isabel Martinez, quando seus embaixadores na Argentina pareciam menos interessados em visitar o Palácio San Martin do que frequentar cassinos militares, trocando ideias sobre como somar esforços na “guerra contra a subversão”.

A carta de Geisel a Videla, de 15 de dezembro de 1976, chegou a Buenos Aires dentro de uma “mala diplomática”, não por telefone, como era habitual. No documento consta “secreto e urgentíssimo”, ao lado dessa nota.

Em 6 de dezembro de 1976, nove dias antes da correspondência de Geisel, o presidente João Goulart havia morrido, em seu exílio de Corrientes, o qual, de acordo com provas incontestáveis, foi um dos alvos prioritários da Operação Condor no Brasil, que o espionou durante anos na Argentina, no Uruguai e na França, onde ele realizava consultas médicas por causa de seu problema cardíaco.

Mais ainda: está demonstrado que, em 7 de dezembro de 1976, a ditadura brasileira proibiu a realização de necropsia nos restos do líder nacionalista e potencial ameaça, para que não respingassem em Geisel a parada cardíaca de origem incerta.

Não há elementos conclusivos, mas suspeitas plausíveis, de que Goulart foi envenenado com pastilhas misturadas entre seus medicamentos, numa ação coordenada pelos regimes de Brasília, Buenos Aires e Montevidéu, e assim o entendeu a Comissão da Verdade, da presidenta Dilma Rousseff, ao ordenar a exumação do corpo enterrado na cidade sulista de São Borja, sem custódia militar, porque o Exército se negou a dar-lhe há 10 dias, depois de receber um pedido das autoridades civis.

Carta

Geisel escreveu em resposta a outra carta, de Videla (de 3 de dezembro de 1976), na qual ele se dizia persuadido de que a “Pátria...vive uma instância dinâmica no plano das relações internacionais, particularmente em sua ativa e fecunda comunicação com as nações irmãs”.

“A perdurável comunidade de destino americano nos assinala hoje, mais do que nunca, o caminho das realizações compartilhadas e a busca das grandes soluções”, propunha Videla, enterrado junto aos crimes secretos transnacionais sobre os quais não quis falar perante o Tribunal Federal N1, onde transita o mega processo da Operação Condor.

Os que estudaram essa trama terrorista sul-americana sustentam que ela se valeu dos serviços da diplomacia, especialmente no caso brasileiro, onde os chanceleres teriam sido funcionais aos imperativos da guerra suja. Portanto, esse intercâmbio epistolar enquadrado na diplomacia presidencial de Geisel e Videla, pode ser lido como um contraponto de mensagens cifradas sobre os avanços do terrorismo binacional no combate à resistência brasileira ou argentina. Tudo em nome do “interesse recíproco de nossos países”, escreveu Videla.

Em dezembro de 1976, 9 meses após a derrubada do governo civil, a tirania argentina demonstrava que, além de algumas divergências geopolíticas sonoras com o sócio maior, havia de fato uma complementariedade das ações secretas “contra a subversão”. Assim, pouco após a derrubada de Isabel Martínez, o então chanceler brasileiro e antes embaixador em Buenos Aires, Francisco Azeredo da Silveira, recomendou o fechamento das fronteiras para colaborar com Videla, para impedir a fuga de guerrilheiros e militantes argentinos.

Por sua parte, Videla, assumindo-se como comandante do Condor celeste e branco, autorizava o encarceramento de opositores brasileiros, possivelmente contando com algum nível de coordenação junto aos adidos militares (os mortíferos “agremiles”) destacados no Palácio Pereda, a mansão de linhas afrancesadas onde tem sede a missão diplomática na qual, segundo versões, havia um número exagerado de armas de fogo.

Entre março, mês do golpe, e dezembro de 1976, foram sequestrados e desaparecidos na Argentina os brasileiros Francisco Tenório Cerqueira Júnior, Maria Regina Marcondes Pinto, Jorge Alberto Basso, Sergio Fernando Tula Silberberg e Walter Kenneth Nelson Fleury, disse o informe elaborado pelo Grupo de Trabalho Operação Condor, da Comissão da Verdade. O organismo foi apresentado por Dilma perante rostos contidamente iracundos dos comandantes das Forças Armadas, os únicos, entre as centenas de convidados para a cerimônia, que evitaram aplaudi-la.

Ao finalizar o ato realizado em novembro de 2011, o então secretário de Direitos Humanos argentino Eduardo Luis Duhalde, declarava a este site que um dos segredos melhor guardados da Operação Condor era a participação do Brasil e a sua conexão com a Argentina, e que essa associação delituosa só será revelada quando Washington liberar os documentos brasileiros com a mesma profusão com que liberou os documentos sobre a Argentina e o Chile.

Pistas diplomáticas

Averiguar até onde chegou a cumplicidade de Buenos Aires e Brasília será mais difícil depois do falecimento de Videla, mas não há que se subestimar as pistas diplomáticas.

Em 6 de agosto de 1976, um telefonema “confidencial” elaborado na embaixada brasileira informa aos seus superiores que o ministro de Relações Exteriores Guzzetti falou sobre a “nova” política externa vigente desde que “as forças armadas assumiram o poder” e a da vocação de aproximar-se mais do Brasil, após anos de distanciamento.

Ao longo de 1976, os chanceleres Azeredo da Silveira e Guzzetti mantiveram reuniões entre si e com o principal fiador da Condor, Henry Kissinger que, segundo os documentos que vieram a público há anos a pedido do “Arquivo Nacional de Segurança” dos EUA, recomendou a ambos ser eficazes na simulação no trabalho de extermínio dos inimigos.

“Nós desejamos o melhor para o novo governo (Videla)...desejamos seu êxito...Se há coisas a fazer, vocês devem fazê-las rápido...”, recomendou o Prêmio Nobel da Paz estadunidense, ao contra-almirante e chanceler Guzzetti, em junho de 1976.