segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Oposição surpreende e leva eleição argentina para 2º turno pela 1ª vez

  • Há 1 hora
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Image caption Candidato do governo, Daniel Scioli (à esq.) disputará segundo turno de eleições presidenciais argentinas com Mauricio Macri, da oposição
Após 12 anos de governo, o kirchnerismo sofreu um inesperado revés nas urnas, no domingo, com o candidato da oposição à Presidência argentina, Mauricio Macri, da aliança Cambiemos ('Mudemos', em tradução livre), recebendo mais votos do que o esperado e levando a eleição para um segundo turno em novembro.
É a primeira vez que ocorre um segundo turno nas eleições presidenciais argentinas.
A expectativa do governo era de que seu candidato, Daniel Scioli, da Frente para a Vitória (FPV), vencesse no primeiro turno. Além disso, pesquisas de opinião indicavam que Scioli poderia ter em torno de oito pontos percentuais de vantagem sobre Macri.
Na madrugada de segunda-feira, contudo, com 85,16% das urnas apuradas, Macri tinha 35,21% dos votos e Scioli, 35,94%. A eleição só teria evitado o segundo turno caso um dos candidatos tivesse atingido 45% dos votos ou 40% e uma diferença de 10% para o segundo colocado.
Os primeiros resultados oficiais foram divulgados à 0h (1h em Brasília), cerca de seis horas após o encerramento da votação. A divulgação tardia provocou fortes críticas contra o governo na imprensa local.
Inicialmente, a apuração dos votos mostrava Macri à frente de Scioli. Ao discursarem na noite de domingo, os candidatos já deram o tom da campanha que se estenderá até 22 de novembro, data do segundo turno.
Leia também: Argentinos votam no primeiro pleito sem um Kirchner em 12 anos

'Novo tempo'

Com um semblante sério e vestido de terno e gravata, Scioli fez um apelo aos indecisos e criticou Macri.
"Se dependesse de Macri, não teríamos a 'Asignación Universal por Hijo' (AUH, ajuda social para famílias carentes com filhos pequenos)", disse Scioli.
O candidato governista também defendeu medidas da gestão de Cristina Kirchner e voltou a alfinetar o opositor sobre a estatização da YPF.
No passado, Macri havia criticado a intervenção, mas nesta campanha afirmou que teria feito o mesmo.
Scioli disse ainda que os argentinos "não querem voltar aos tempos de ajustes e desvalorização" e sugeriu que, uma vez eleito, tais medidas não seriam aplicadas.
"Peço humildemente que continuem nos acompanhando", disse.
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Image caption Mauricio Macri, da oposição, comemorou ida ao segundo turno
Em clima de festa, Macri, de calça comprida e camisa esporte, sem gravata, disse que "começou um novo tempo no país".
Como tem sido costumeiro em seus comícios, o candidato da oposição terminou dançando ao som de músicas populares. Ele pediu votos para os eleitores dos outros quatro candidatos opositores derrotados e não mencionou o nome de Scioli.
Macri agradeceu ao apoio de sindicalistas, movimentos sociais e outros partidos que integram a Cambiemos, além de citar os peronistas – que, mesmo divididos, podem definir uma eleição, de acordo com analistas.
Segundo assessores, Scioli, que é governador da província de Buenos Aires, e Macri, prefeito da cidade de Buenos Aires, são amigos de longa data, mas divergem na arena política.
Na noite de domingo, eles reforçaram que a campanha pelo segundo turno começou e promete ser tão acirrada quanto a do primeiro turno.
"Scioli assusta as pessoas sugerindo que elas podem perder os planos sociais (a AHU)", disse a jornalista Maria O’Donnell, do canal de TV 26.
Ex-atleta que teve o braço direito amputado após um acidente em uma competição de motonáutica, Scioli, que chegou a se encontrar com a presidente Dilma Rousseff, disse, durante a campanha, ter sido inspirado pelo papa: " O que defendemos é a cultura do encontro apoiada pelo papa Francisco".
Já o tom da campanha de Macri foi de que "a Argentina merece mais".
"O kirchnerismo, com sua política do medo, tentou nos convencer de que o que temos é suficiente. Mas somos capazes de mais, de muito mais", disse Macri.
Leia também: 'Já ouviu aquela do argentino?': por que nossos vizinhos são tema de piada na América Latina

'Derrota do kirchnerismo'

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Image caption Kirchnerismo saiu derrotado nos principais redutos eleitorais da Argentina
O pleito também escolheu deputados nacionais, parlamentares para o Mercosul e governadores de onze províncias.
O pleito de domingo foi marcado pelo fracasso do kirchnerismo nos principais redutos eleitorais do país, como na província de Buenos Aires.
A candidata de Macri, Maria Eugenia Vidal, venceu o candidato de Cristina, Anibal Fernández, na província governada há oito anos por Scioli.
"Aconteça o que acontecer (no segundo turno presidencial) será um fim de ciclo (do kirchnerismo) na Argentina", disse a analista política Graciela Romer.
Mais cauteloso, o analista Roberto Bacman disse que "o certo é que o domingo foi marcado por surpresas".

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terça-feira, 13 de outubro de 2015

Candidato governista da Argentina vai a Brasília para encontro com Dilma

Publicado em 13/10/2015, às 07h54 | Atualizado em 13/10/2015, às 07h54
Da Agência Globo
Scioli (foto) é favorito na corrida pela sucessão da presidente Cristina Kirchner, na Agentina / Foto: AFP Scioli (foto) é favorito na corrida pela sucessão da presidente Cristina Kirchner, na Agentina Foto: AFP
O governador da província de Buenos Aires, Daniel Scioli, favorito na corrida pela sucessão da presidente argentina, Cristina Kirchner, interromperá sua intensa campanha por todo o país para visitar, no mesmo dia, os presidentes do Uruguai, Tabaré Vázquez, e do Brasil, Dilma Rousseff. Ambos encontros serão realizados nesta terça-feira (13), numa viagem relâmpago que busca instalar o lema “mais Argentina no mundo e mais mundo na Argentina”, segundo informaram assessores do candidato do kirchnerismo nas presidenciais do próximo dia 25 de outubro.
A reunião com Dilma foi organizada às pressas na semana passada. A presidente era, junto com o venezuelano Nicolás Maduro, a única chefe de Estado da região que não estava na lista dos encontros internacionais de Scioli antes do dia 25. As críticas do candidato da Casa Rosada a Maduro são conhecidas, mas o Brasil é considerado um sócio estratégico por Scioli e por isso, apesar da delicada crise que enfrenta Dilma, foi incluída uma rápida passagem por Brasília após a conversa com Vázquez, em Montevidéu.

A prioridade de Scioli na reta final da campanha é buscar votos no interior da Argentina. A carregada agenda do candidato do kirchnerismo prevê visitar entre quatro e cinco cidades por dia, atingindo, pelo menos, três milhões de eleitores. Scioli está primeiro nas pesquisas, mas ainda não conseguiu, de acordo com algumas pesquisas, alcançar a pontuação necessária para vencer no primeiro turno (mais de 45% ou de 40%, com uma diferença de pelo menos 10% em relação ao segundo colocado). Um eventual segundo turno com seu principal rival, o prefeito portenho Mauricio Macri, seria o primeiro da História do país.

— Nossa prioridade é a região e na região nossa relação privilegiada com o Brasil, nosso maior sócio — comentou um assessor do governador.

Segundo ele, Scioli quer aprofundar o vínculo com países como China, Índia e Rússia e, também, com os países europeus.

— Precisamos de um novo encontro com a Europa e com a América do Norte, porque os tempos mudaram — disse o assessor do candidato de Cristina.

Scioli será recebido por Vázquez por volta do meio dia, na sede do governo uruguaio, em Montevidéu. Nos últimos anos, o vínculo entre os dois países estremeceu-se por diferentes motivos, entre eles as barreiras comerciais aplicadas pela Argentina e a disputa em torno a instalação de uma fábrica de celulose na fronteira.

— A irmandade entre nossos povos nos leva a continuar trabalhando, coordenados, integrados e fortalecendo a relação bilateral — declarou Scioli.

Vázquez vai retribuir o respaldo que recebeu do governador argentino durante a campanha eleitoral uruguaia, no final do ano passado.

No final do dia, será a vez de Dilma. No encontro, o candidato argentino quer discutir futuras possibilidades de integração em matéria de infra-estrutura, transporte e comércio. Desde que iniciou sua campanha, Scioli já esteve com os presidentes de Cuba, Raúl Castro, da Bolívia, Evo Morales, do Paraguai, Horacio Cartes, do Chile, Michelle Bachelet, e com os ex-chefes de Estado José Pepe Mujica, do Uruguai, e Luiz Inácio Lula da Silva.

— Enquanto outros estão disputando o segundo lugar, eu estou dedicado a levar a Argentina a grandes vitórias —afirmou Scioli, em tom irônico.

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Pela primeira vez uma mulher é promovida a general na Argentina

María Isabel Pansa, de 54 anos, é assistente da presidente Cristima Kirchner.
Ela iniciou carreira em 82, durante conflito nas Ilhas Malvinas.

Da France Presse
A promoção da coronel María Isabel Pansa, uma das três assistentes da presidente argentina Cristina Kirchner, foi aprovada nesta quarta-feira (7) pelo Senado, fazendo dela a primeira mulher em atividade com patente de general na Argentina.
Kirchner propôs a ascensão de Pansa após assinar um decreto que permite aos integrantes das forças armadas com título universitário "alcançar a patente máxima".
Pansa, de 54 anos, é formada em Ciência da Computação pela universidade privada de Belgrano (UB) e se formou em 2012 em psicologia na Universidade da Marinha Mercante.
Pansa é a primeira mulher em atividade a ser promovida general. Em julho de 2009, Kirchner aprovou a promoção póstuma a general de Juana Azurduy, heroína da independência sul-americana.
Assessora de Kirchner desde seu primeiro mandato em 2007, Pansa entrou para o corpo auxiliar feminino do Exército em 1982, durante o conflito armado entre Argentina e Grã-Bretanha pelas Ilhas Malvinas.