segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Disputa econômica ficou para trás (Tribuna da Imprensa)

BUENOS AIRES - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o Brasil tornaram-se, nos últimos anos, uma fonte de admiração e saudável inveja na Argentina. As lideranças da oposição recorrem constantemente à figura do presidente brasileiro para citá-lo como exemplo de consenso, em contraposição com as personalidades adeptas ao confronto político como a presidente Cristina Kirchner e seu marido e ex-presidente Néstor Kirchner.

Os empresários suspiram ao ver os substanciais créditos outorgados pelo BNDES, lamentam a inexistência de uma entidade financeira similar na Argentina e sonham com os polpudos financiamentos "à moda brasileira" ao setor agropecuário (enquanto que na Argentina, os ruralistas são alvo de retaliações do governo local).

A própria presidente Cristina Kirchner, no comício de lançamento de sua campanha eleitoral, há exatamente um ano, fez uma única referência à uma empresa. A companhia citada foi a Embraer. "Um exemplo a ser seguido", exclamou Cristina na ocasião. "O Brasil é um exemplo a imitar", sustenta Alieto Guadagni, ex-diretor da Argentina no BID. Depois, espeta o governo Cristina: "O Brasil responde aos desafios estimulando sua produção, e não colocando um monte de impostos sobre ela.

Enquanto isso, a Argentina optou por desestimular a oferta produtiva". "A Argentina não ambiciona mais, como a meados dos anos 90, durante a presidência de Carlos Menem, em disputar a liderança com o Brasil. Isso está enterrado no passado", diz o ex-Secretário de Comércio, Raúl Ochoa. "Essa sensação ocorre desde 1999, quando a Argentina estava em recessão, e aprofundou-se com a crise de 2001- 2002. De lá para cá, o Brasil tomou outro destino, e a Argentina ficou para trás."

No passado, o peso do Brasil na região soava como uma "ameaça" para a Argentina. Mas, desde a crise de 2001-2002, a percepção dos argentinos sobre seu próprio país e o vizinho mudou. Agora a força da economia brasileira e sua influência política é encarado como uma "oportunidade" para a Argentina. Segundo os analistas, o crescimento do Brasil vai beneficiar os argentinos tanto pela expansão da demanda de produtos Made in Argentina para o mercado do sócio do Mercosul como pelo maior fluxo de capitais do Brasil no país.

"A Argentina precisa aproveitar melhor o crescimento brasileiro", sustenta Dante Sica, diretor da consultoria Abeceb. "É preciso grudar no Brasil e aproveitar sua expansão", afirmam analistas, após destacar a transformação do Brasil no potencial "celeiro do mundo" (título que a Argentina ostentava há um século) e de suspirar de inveja pela descoberta de petróleo na plataforma marítima.

Nos últimos seis anos, dezenas de empresas brasileiras expandiram-se na Argentina, entre elas a Petrobras (que adquiriu a energética Pérez Companc), a AmBev (que comprou a cervejeira Quilmes) e a Camargo Corrêa (que ficou com a Loma Negra, a maior empresa de cimento do país). No total, as empresas brasileiras investiram US$ 8 bilhões na Argentina.

domingo, 3 de agosto de 2008

Lula e Cristina Kirchner tentam impulsionar negócios entre Brasil e Argentina

Paula Laboissière
Enviada especial


Buenos Aires - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chega a Buenos Aires no final da tarde de hoje (3). Acompanhado por 264 empresários brasileiros, ele participa amanhã (4) da cerimônia de abertura de um encontro empresarial entre o Brasil e a Argentina. A presidente do país vizinho, Cristina Kirchner, também abre o evento, numa tentativa de impulsionar os negócios entre os dois países.

Após divergências de posicionamento entre os dois países durante as negociações da Rodada Doha na Organização Mundial do Comércio (OMC), Lula deverá defender o fortalecimento da integração de países da América do Sul.

Este será o primeiro encontro bilateral dos dois líderes após a Cúpula de Chefes de Estado do Mercosul, na cidade argentina de San Miguel de Tucumán, no dia 1º de julho.

A comitiva de empresários brasileiros deve se juntar a outros 100 participantes do seminário Argentina-Brasil: uma Aliança Produtiva Chave, a partir das 10h de amanhã. Em seguida, às 11h, Lula se reúne com Cristina na Casa Rosada – sede do governo argentino – e de um almoço, agendado para as 13h no Palácio San Martin.

Informações não-oficiais divulgadas pela embaixada do Brasil em Buenos Aires indicam que o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, também deve visitar a Argentina amanhã mas que o líder brasileiro não estaria interessado em um encontro trilateral. Lula poderá, portanto, antecipar sua volta ao Brasil, prevista até então para as 16h30.

Em Tucumán, Chávez, Cristina e Lula haviam acordado em se encontrar posteriormente para discutir temas de interesse para a América do Sul.

A chegada do presidente Lula está prevista paras as 18h20. À noite (20h30), ele tem jantar marcado com a presidente argentina, Cristina Kirchner, na residência da Embaixada Brasil.